
- Governo Lula paga R$ 10,90 por galão de água para a COP-30 — até quatro vezes o valor comum no mercado.
- Contrato milionário levanta dúvidas sobre real compromisso com sustentabilidade.
- Planalto ainda não explicou escolha da fornecedora nem os preços praticados.
Um contrato firmado pela Casa Civil para a COP-30, em Belém, revela que o governo federal pagará até quatro vezes mais pelo galão de água mineral do que o valor praticado no varejo. A aquisição milionária levanta questionamentos sobre gestão de recursos públicos, coerência com o discurso ambiental e possíveis favorecimentos logísticos, já que a fornecedora está a milhares de quilômetros do evento.
Água mineral a preço de ouro no evento do clima
A COP-30, conferência climática que acontecerá em Belém em 2025, tornou-se símbolo de contradição antes mesmo de começar. A Casa Civil autorizou a compra de 20 mil galões de 20 litros de água pelo valor total de R$ 218 mil, o que significa R$ 10,90 por galão. Comparando com o preço médio do mesmo produto em Belém, que varia entre R$ 6 e R$ 7, a diferença chega a quase 100%.
Além disso, o contrato foi firmado com uma distribuidora localizada no Distrito Federal, a mais de dois mil quilômetros da capital paraense. Logo, isso levanta dúvidas não apenas sobre a escolha da empresa, como também sobre a eficiência logística da entrega. Afinal, há fornecedores locais com preços menores e menor impacto ambiental no transporte.
O volume contratado também surpreende. Embora a justificativa oficial aponte o abastecimento das equipes envolvidas na organização da conferência, não fica claro por que foi necessária uma quantidade tão alta com preços tão elevados. Desse modo, a falta de transparência nos detalhes operacionais alimenta ainda mais as críticas.
Sustentabilidade que escorre pelo ralo
A incoerência entre o discurso ambiental e a prática administrativa do governo se torna evidente quando se analisa a natureza do evento. A COP-30, promovida pela ONU, é centrada justamente na preservação dos recursos e no combate ao desperdício. No entanto, o contrato da água mostra o oposto: um gasto excessivo e mal justificado com um item básico.
Nesse sentido, um dos pilares da sustentabilidade é justamente a eficiência no uso de recursos públicos. Então, comprar galões de água por valores inflacionados compromete a credibilidade do Brasil no cenário internacional. Pior: passa a mensagem de que o evento pode estar sendo usado como vitrine política, e não como instrumento real de mudança ambiental.
Outro ponto sensível está na escolha do fornecedor. A contratação de uma empresa fora da região Norte não apenas dificulta a logística, como também amplia a pegada de carbono do transporte. Isso entra em choque direto com as premissas centrais do evento, que promete ser o mais sustentável da história das COPs.
Silêncio do governo e histórico de contratos polêmicos
Até o momento, a Casa Civil não emitiu explicações públicas sobre os preços acima da média ou sobre a origem da empresa contratada. Essa omissão vem em meio a uma série de contratos polêmicos já realizados para a preparação da COP-30, muitos deles questionados por entidades fiscalizadoras e pela imprensa.
Vale lembrar que não é a primeira vez que gastos com eventos internacionais do governo Lula levantam suspeitas. Desde o início do terceiro mandato, contratos milionários com consultorias e fornecedores sem licitação clara têm sido motivo de alerta. O caso da água superfaturada apenas soma-se a um padrão preocupante.
Enquanto isso, parlamentares da oposição prometem levar o tema ao Tribunal de Contas da União (TCU), exigindo apuração sobre os valores e os critérios adotados. A pressão por mais transparência cresce, especialmente porque os custos da conferência são, no fim das contas, pagos com dinheiro do contribuinte.