- Governo venezuelano implementou jornada de três dias por semana no setor público para enfrentar a crise energética.
- População enfrenta filas, atrasos e dificuldade de acesso a atendimentos básicos em cartórios, hospitais e escolas.
- Especialistas alertam para a necessidade de diversificar a matriz energética e garantir sustentabilidade a longo prazo.
Em vigor desde o início de maio, a nova escala de trabalho dos servidores públicos venezuelanos mudou radicalmente a rotina do país. Com a jornada reduzida para três dias por semana, das 8h às 12h30, o governo de Nicolás Maduro tenta conter os efeitos da crise energética que ameaça o funcionamento da principal hidrelétrica nacional. A medida, embora emergencial, gerou descontentamento entre trabalhadores e usuários de serviços públicos, que enfrentam filas, atrasos e incertezas.
Mudança rápida, adaptação difícil
A decisão foi tomada para minimizar o consumo de energia diante da queda no nível de água da usina de Guri, que abastece boa parte da Venezuela. A seca prolongada comprometeu a geração de energia e pressionou o sistema elétrico. Para evitar apagões ainda mais severos, o governo implementou a escala 3×4 no funcionalismo, limitando o expediente público a três dias por semana, com duração de quatro horas e meia por turno.
Segundo o Ministério da Energia, a estratégia visa equilibrar o fornecimento de eletricidade em regiões mais afetadas e reduzir a sobrecarga nas redes. Além disso, campanhas educativas vêm sendo promovidas para estimular a economia doméstica de energia, principalmente nas grandes cidades.
No entanto, servidores públicos precisaram se adaptar rapidamente à nova realidade. Muitos relataram dificuldades para organizar demandas acumuladas em poucos dias úteis, enquanto a população, que depende desses serviços, passou a enfrentar um verdadeiro gargalo de atendimento. Cartórios, escolas e hospitais públicos viram filas se formar logo no início do expediente.
População sente o impacto imediato
Com o novo horário em vigor, as repartições públicas atendem apenas de segunda a quarta-feira. A redução dos dias úteis tem causado transtornos, principalmente em áreas onde a oferta de serviços já era limitada. Quem precisa de documentos, aprovações ou assistência médica agora enfrenta prazos mais longos e menor disponibilidade de pessoal.
Além disso, a medida não foi acompanhada de nenhum tipo de compensação financeira ou reestruturação formal para os servidores. Sindicatos e entidades de classe criticaram a falta de diálogo por parte do governo. Trabalhadores afirmam que foram informados da decisão sem qualquer consulta ou espaço para negociação, o que acentuou a insatisfação.
Enquanto isso, o setor privado, que continua funcionando normalmente, também sente os reflexos. Empresas que dependem de autorizações, serviços logísticos ou liberação de cargas enfrentam atrasos e interrupções, gerando perdas econômicas indiretas.
Desse modo, a nova jornada, embora represente um alívio temporário para o consumo de energia, transformou o cotidiano de milhares de venezuelanos. Muitos agora precisam reorganizar suas vidas para acessar serviços públicos em prazos cada vez mais apertados.
Solução provisória ou novo padrão?
Especialistas apontam que a escala 3×4 pode trazer resultados no curto prazo, mas não soluciona os problemas estruturais do sistema energético venezuelano. A dependência quase total da hidrelétrica Simón Bolívar e do reservatório de Guri torna o país vulnerável a secas e à falta de investimentos em manutenção.
Segundo analistas, o governo deveria aproveitar a crise para iniciar um processo de diversificação energética, investindo em fontes como energia solar e eólica. No entanto, até o momento, não há planos públicos concretos nesse sentido.
A população, por sua vez, espera maior transparência nas ações do governo e um plano claro para superar a crise. O temor é que medidas emergenciais se tornem permanentes, prejudicando ainda mais o funcionamento do Estado e a qualidade de vida dos cidadãos.