
- Selic chega a 15% ao ano, maior nível desde 2006, e Copom sinaliza possível pausa no ciclo de alta.
- Inflação projetada segue acima da meta para 2025 e 2026, segundo Banco Central e Focus.
- Riscos internos e externos desafiam política monetária, exigindo manutenção da taxa elevada por mais tempo.
A taxa básica de juros (Selic) foi elevada a 15% ao ano nesta quarta-feira (18), atingindo o maior patamar desde 2006. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por unanimidade pela alta de 0,25 ponto percentual e sinalizou que, se confirmadas as previsões atuais, essa poderá ser a última elevação do ciclo iniciado em setembro do ano passado.
A decisão marca a sétima alta consecutiva da Selic, refletindo um cenário de inflação resistente e expectativas desancoradas. Segundo o comunicado oficial, o comitê quer observar os efeitos acumulados da política monetária já implementada antes de tomar novas decisões.
Pausa estratégica, mas cautelosa
A leitura do Copom sugere que o ciclo de aperto pode estar próximo do fim. Porém, a manutenção da taxa em um nível “significativamente contracionista” por tempo prolongado deve continuar. O objetivo é garantir que a inflação convirja para a meta de 3% definida para os próximos anos.
Apesar do sinal de pausa, o tom do comunicado foi firme. O comitê alertou que “seguirá vigilante” e não hesitará em retomar os ajustes se os indicadores se deteriorarem. A estratégia é mitigar os efeitos inflacionários sem comprometer demais a atividade econômica.
Internamente, o dinamismo da economia e a pressão no mercado de trabalho seguem impulsionando os preços, sobretudo em serviços. Externamente, a incerteza nos Estados Unidos e a tensão geopolítica complicam ainda mais o quadro.
Projeções de inflação: metas sob ameaça
As expectativas de inflação seguem acima do centro da meta. Para 2025, o Focus projeta 5,2%, enquanto o próprio Copom calcula 4,9%. Já para 2026, as projeções são de 4,5% e 3,6%, respectivamente. Esses números, porém, ainda refletem riscos consideráveis, principalmente por conta da política fiscal e da instabilidade cambial.
A seguir, veja a nova projeção de inflação do Banco Central para 2025 e 2026:
A tabela mostra que os preços livres devem subir 5,2% em 2025, desacelerando para 3,4% no ano seguinte. Por outro lado, os preços administrados, como energia e combustíveis, devem acelerar em 2026, após alívio temporário.
Esse descompasso entre os grupos de preços reforça a dificuldade de calibrar a política monetária. Mesmo com juros elevados, a inflação se mostra resistente. E mais: as projeções do IPCA seguem acima do limite da meta estabelecida para os próximos dois anos.
Ambiente interno e externo elevam os riscos
O comunicado ressalta os riscos de alta e baixa para a inflação. Entre os fatores que podem pressionar ainda mais os preços, estão a desancoragem das expectativas e uma política econômica interna expansionista, combinada com desvalorização cambial prolongada.
Já entre os riscos de baixa, o Copom aponta uma possível desaceleração mais acentuada da atividade doméstica, queda nos preços das commodities e enfraquecimento da economia global. Nesse cenário volátil, o BC diz que precisa de cautela redobrada para evitar novos choques inflacionários.
Além disso, a política fiscal segue sendo um ponto de atenção. Qualquer desalinhamento entre os gastos públicos e o compromisso com a responsabilidade fiscal pode afetar a eficácia dos juros altos, aumentando as pressões sobre a inflação.