
- Trump rompe com o passado e propõe tributar milionários com até 39,6% para aliviar impostos da classe média.
- A estimativa de arrecadação é de US$ 400 bilhões em uma década, embora haja resistências no Congresso.
- A proposta reacende o debate sobre justiça fiscal no Brasil e em outras economias, com foco na tributação de grandes fortunas.
Donald Trump defende imposto de 39,6% para cidadãos ultrarricos, alegando que medida financia alívio tributário à classe média. Proposta pode arrecadar US$ 400 bilhões em dez anos.
Proposta fiscal de Trump rompe com sua trajetória anterior
Em movimento inesperado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou uma proposta de aumento de impostos para milionários, contrariando seu histórico político. A medida sugere elevar a alíquota para indivíduos com renda superior a US$ 2,5 milhões anuais para 39,6%, superando os atuais 37%. Trata-se da maior alíquota desde a reforma tributária da era Obama.
Enquanto parte de sua base conservadora expressa resistência, Trump justificou a mudança como um “ajuste necessário” em um segundo mandato que demanda soluções amplas. Segundo ele, essa tributação extra permitirá um corte substancial nos impostos pagos pela classe média, ao mesmo tempo em que assegura o financiamento de programas sociais como o Medicaid e o Medicare, além de investimentos em infraestrutura.
Embora ainda dependa de aprovação no Congresso, a proposta já se tornou um dos pilares do plano econômico de Trump para os próximos anos. Além disso, o presidente insiste que sua reeleição foi um mandato claro para reequilibrar as prioridades fiscais do país, agora pressionado por déficits persistentes e aumento das desigualdades.
Essa mudança de postura também visa neutralizar críticas sobre favorecimento dos mais ricos em seu primeiro mandato. Na ocasião, Trump havia cortado impostos amplamente para empresas e cidadãos de alta renda, com a promessa de gerar crescimento econômico sustentado.
Impacto estimado e resistência política
De acordo com analistas, a proposta pode gerar cerca de US$ 400 bilhões em receita adicional em um período de dez anos. O número, embora robusto, dependerá de uma série de variáveis, como adesão do Congresso, comportamento do mercado e o nível de cumprimento fiscal entre os mais ricos.
Apesar do otimismo presidencial, representantes do Partido Republicano no Congresso se mostram divididos. Parte deles teme que a mudança afaste doadores tradicionais e enfraqueça o discurso conservador de estímulo à riqueza privada. Outros, no entanto, já sinalizam apoio condicional, desde que haja garantias de que a carga tributária não penalizará investimentos produtivos.
Por outro lado, membros do Partido Democrata cobram que a proposta vá além. Para eles, é preciso tributar não apenas rendimentos, mas também patrimônios, heranças e ativos acumulados em paraísos fiscais. Essa visão ganha força diante dos dados recentes da Oxfam, que apontam que o 1% mais rico acumulou US$ 42 trilhões na última década.
Mesmo com as controvérsias, a ideia encontra apoio expressivo na população. Pesquisas revelam que cerca de 60% dos americanos apoiam tributar mais os ultrarricos, principalmente diante do aumento do custo de vida, do endividamento estudantil e da insegurança econômica.
Repercussões globais e reflexo no Brasil
Fora dos EUA, a proposta de Trump reaqueceu debates sobre justiça fiscal. Em países como Alemanha, França e Brasil, economistas avaliam que medidas semelhantes poderiam financiar serviços públicos e reduzir desigualdades históricas. No caso brasileiro, especialistas estimam que um imposto sobre grandes fortunas poderia arrecadar até R$ 260 bilhões por ano.
Embora o Brasil tenha previsão constitucional para esse tributo desde 1988, ele nunca foi regulamentado. A proposta americana, por sua visibilidade, reacende pressões sobre o Congresso Nacional para retomar o tema. Organizações como a Tax Justice Network argumentam que a ausência de tributação sobre grandes patrimônios favorece a concentração de renda e compromete a equidade do sistema.
Além disso, a medida pode influenciar acordos multilaterais sobre tributação internacional. Desde a pandemia, instituições como o FMI e a OCDE têm defendido maior cooperação global para impedir a evasão e a elisão fiscal, práticas frequentemente usadas por grandes fortunas para fugir de impostos nacionais.
Portanto, Trump, ao propor esse imposto, também tenta reposicionar os Estados Unidos no debate global sobre distribuição de riqueza. Ainda que suas motivações sejam em parte políticas, a medida representa um gesto significativo diante da crescente pressão internacional por justiça fiscal.