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De acordo com informações obtidas pelo Guia do Investidor, a Hectare Capital, gestora do fundo HECTARE CE – FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO (HCTR11), acusa a XP de noticiar “irresponsavelmente um suposto (e infundado) risco de calote por parte” do fundo.
Após o mercado ser surpreendido com a notícia de que o juízo da 42ª Vara Cível de São Paulo ordenou uma busca e apreensão nos endereços do Grupo Suno, de seu fundador, Tiago Reis, e dos analistas e influenciadores Vitor Duarte e Marcos Baroni, o Guia do Investidor descobriu que a XP Investimentos também é acusado pela Hectare.
Para provar seus argumentos, a Hectare ajuizou uma ação de produção antecipada de provas, que é quando uma pessoa deseja obter informações sobre um fato antes de entrar com a ação principal.
De acordo com a gestora, “a XP, mediante a elaboração e divulgação interna de relatórios, disseminou ao mercado, por meio de agentes autônomos de investimento e assessores, um falso risco de inadimplemento por parte do HCTR11. Esses, por sua vez, direta e indiretamente, iniciaram uma campanha difamatória contra a Hectare — conduzida principalmente, mas não só, por redes sociais —, induzindo o mercado a alienar as cotas detidas no Fundo”.
Essa suposta manipulação da XP Investimentos, de acordo com a Hectare, causou um “inexplicável e atípico aumento nas movimentações envolvendo cotas do Fundo no mercado secundário”.
Todavia, diferentemente do que constava na suposta documentação divulgada pela XP, “não houve, em momento algum, uma efetiva comprovação do cenário falsamente disseminado” pela XP.
Índice de conteúdo
Conversas com Assessores da XP
De acordo com a Hectare, a partir de abril de 2022, iniciou-se uma intensa campanha difamatória em desfavor do HCTR11, propagando-se, de forma ordenada e insinuações descabidas.
O objetivo, de acordo com a ação, era induzir investidores a alienar cotas detidas no fundo.
Conversas de investidores com assessores de investimentos, juntadas pela gestora no processo, indicam que os assessores da XP, sem qualquer explicação, recomendavam “zerar a posição em HCTR11 […] antes que seu dinheiro vire pó”.
Gravação de Assessores da XP
Para provar sua tese, a Hectare junta ao processo duas gravações de dois Assessores de Investimentos ligados à Rio Capital, “um dos maiores escritórios de agente autônomo de investimentos, credenciado à XP investimentos, localizado no RJ e SP”, nas palavras da própria empresa.
De acordo com áudios juntados pela gestora nos autos do processo, os sócios da Rio Capital, Srs. Cesar Gonzalez Ramos e Cristian Patzlaff, aconselharam um investidor do fundo “a alienar suas cotas detidas no HCTR11, à luz de uma informação que teria sido recebida pela XP”.
A conversa com Cristian Patzlaff, disponível neste link, tem o seguinte trecho:
Cliente: (…) Você consegue me mandar aí tipo, só para também eu me embasar aqui para vê se é uma movimentação que eu faço? O que foi passado? Tem algum material, alguma coisa que eu possa dar uma olhada aqui, por favor?
Cristian: Sim, eu posso ver aqui o que eu te mando aqui certinho, reúno o material e aí eu mando para você pelo WhatApp ali ou você prefere por e-mail?
Cliente: Pode ser pelo What App? Pode ser pelo What App cara, o que for mais fácil aí para você.
Cristian: Eu te mando e aí como eu disse [omitido pelo GDI], não digo que eles vão cair assim muito, isso na verdade é impossível até de a gente prevê. Ah, vai cair 10%, vai cair 15%, enfim, isso é impossível de a gente prevê, a gente realmente só está alertando que esses Fundos que você tem, eles têm ativos que vão dar default e pode ser que aconteça realmente uma movimentação no preço, uma queda nesses preços e uma queda também no dividendo. Então é mais um papel informativo digamos assim. Mas eu te mando…
Cliente: Não, tudo bem Cristian, está entendido, a gente sabe que a gente não tem aí uma bola de cristal, mas era mais para pode me basear, enfim, dar uma lida nesse relatório aí que você tem com essa mensagem da XP, seria interessante eu dar uma lida aqui, se você conseguir me passar, por favor.
Cristian: Sim, sim. Eu te mando ali pelo What App sim, pode deixar.
Cliente: Combinado cara, obrigado. Aí eu vou dar uma lida aqui e depois a gente volta a se falar tá bom.
Cristian: Claro, claro, tranquilo. A gente se fala sim.
Posteriormente, conforme afirmado pela Hectare, o, ao solicitar por whatsapp o envio do relatório mencionado por Cristian, este afirmou ter conferido e “infelizmente, por ser um material interno” não poderia enviar, sugerindo, ainda, que o cliente procurasse Cesar Gonzalez Ramos, especialista em FII.
A conversa com Cesar Gonzalez Ramos, disponível neste link, tem o seguinte trecho:
Cliente: Oi Cesar, boa tarde, boa noite já. Aqui quem está falando é [cliente], tudo bem?
Cesar: Tudo bom [cliente]. Eu ia te ligar agora, acabei de sair de uma reunião.
Cliente: Tranquilo cara. Putz, eu falei agora com o Cristian cara e ele me ligou, eu fiquei aí, enfim, um pouco preocupado aí, acho que vocês já sabem que eu sou bastante fã de Fundo Imobiliário e aí, enfim, ele me ligou mais cedo dizendo que tinha um relatório, que a própria XP tinha emitido e aí eu imagino que eles devem ter passado aí diretamente para vocês, e aí cara eu fiquei, putz, um pouco preocupado, ele disse que não podia mandar porque era um material interno, então putz, eu queria que meio entender aí se tipo, para sair na baixa mesmo, assumir esse prejuízo, putz, eu estou entendendo que esse…, eu queria também entender esse embasamento desse default aí que vocês assumiram, vai ser, a empresa vai entrar em RJ. Putz, mesmo que você não possa mandar o documento para mim. Será que você consegue me mandar só um trechinho para depois eu vou fazer uma pesquisa aqui, eu vou tentar obviamente, tentar pegar esse entendimento aí com o pessoal de mercado também, enfim, sempre óbvio que eu confio muito no trabalho de vocês, agradeço aí a transparência, mas sempre vale conversar com bastante gente.
Por fim, a gestora afirma que, “em paralelo à recomendação de venda das cotas detidas no HCTR11, Cesar Gonzalez Ramos sugeriu, alternativamente, a compra de cotas de outros dois fundos que estariam em Oferta Pública de Captação de recursos: o VGHF11, da Valora Investimentos, e o MCHF, da Mauá Capital, fundos concorrentes e cuja coordenação é da própria XP”
Danos ao Fundo
A Hectare alega, ainda, que “muito embora o suposto default fosse inexplicável — baseado numa documentação interna da XP, cujo acesso, estranhamente, não podia ser repassado aos cotistas — fato é que o relatório, dentre outros documentos fabricados pela XP, divulgados aos seus agentes autônomos e clientes investidores em verdadeira campanha difamatória, tiveram, como consequência, a desvalorização do Fundo e da própria Hectare em si”.
Por fim, a gestora solicita que a XP, Rio Capital, Cristian Patzlaff e Cesar Gonzalez Ramos apresentem o tal relatório e demais documentos repassados para os Assessores de Investimentos.
O que aconteceu com o HCTR11?
Em abril de 2022, um dos fundos imobiliários (FIIs) mais populares listados na B3, o fundo HCTR11 teve oscilação atípica em suas cotas, com variação negativa de quase 25% num intervalo curto de tempo. O objetivo seria supostamente desvalorizar o HCTR11 e indicar aos cotistas o investimento nos fundos da própria Suno Asset.
Na época, o episódio demonstrou, segundo analistas de mercado, que a forte volatilidade experimentada pelo HCTR11, num curto período de tempo refletiu a influência cada vez maior de comentários publicados nas redes sociais, fóruns e plataformas por investidores.
Comentários dos Envolvidos
Após a publicação da matéria, o Guia do Investidor entrou em contato com a XP, Rio Capital, Cristian Patzlaff e Cesar Gonzalez Ramos para que eles apresentassem seus comentários e versões sobre as acusações realizadas pela Hectare Capital.
Até o momento, nenhum dos envolvidos retornou o contato com o GDI. Esta matéria será atualizada assim que os envolvidos retornarem o contato.
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