- As plataformas de apostas online no Brasil movimentaram até R$ 30 bilhões por mês no primeiro trimestre de 2025, segundo o Banco Central.
- O avanço das apostas afeta diretamente as finanças das famílias brasileiras, inclusive de beneficiários do Bolsa Família.
- Autoridades avaliam novas regulamentações para conter os impactos sociais do crescimento acelerado do setor.
O Banco Central divulgou uma nova estimativa sobre o setor de apostas online no Brasil. Segundo a autoridade monetária, os sites de apostas movimentaram entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por mês no primeiro trimestre de 2025.
O dado surpreendeu o mercado, acendeu alertas sobre o impacto nas finanças das famílias brasileiras e colocou em foco a necessidade de regulação mais rigorosa para o setor.
Crescimento acelerado do setor de apostas
O setor de apostas online explodiu em volume de transações desde o início do ano. Durante audiência na CPI das Bets no Senado, o secretário-executivo do Banco Central, Rogério Lucca, revelou que plataformas de apostas movimentaram até R$ 30 bilhões por mês entre janeiro e março de 2025. O valor representa um salto em relação à estimativa anterior, divulgada em 2024, que ficava entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões mensais.
A atualização dos dados foi possível graças à regulamentação recente da atividade pelo Ministério da Fazenda, que forneceu ao BC uma base de dados mais completa.
O volume chama atenção, não apenas pelo crescimento, mas também pelos efeitos colaterais que ele pode gerar no consumo e na saúde financeira da população brasileira.
Impacto nas finanças das famílias
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, demonstrou preocupação com o avanço das apostas online. Segundo ele, o fenômeno tem afetado diretamente o orçamento das famílias brasileiras, que reduzem gastos com consumo e investimentos para alimentar hábitos de jogo cada vez mais frequentes. Em algumas situações, há registros de famílias que chegaram à falência por comprometerem renda com apostas.
Estudos da própria autoridade monetária indicaram que, embora a renda de famílias tenha aumentado em 2024 e 2025, não houve aumento proporcional no consumo ou na poupança.
A hipótese mais provável é de que parte considerável dessa renda tenha sido transferida para plataformas de jogos, o que motivou o início de investigações internas no BC.
Transferências do Bolsa Família preocupam autoridades
Outro ponto alarmante levantado pelo Banco Central está ligado aos beneficiários do Bolsa Família. Apenas em agosto de 2024, cinco milhões de brasileiros inscritos no programa transferiram, via Pix, aproximadamente R$ 3 bilhões para plataformas de apostas online.
Esse montante equivale a cerca de 20% de todo o orçamento mensal do Bolsa Família, revelando um padrão de comportamento que preocupa tanto o governo quanto parlamentares.
Durante a CPI das Bets, o debate sobre a possibilidade de bloquear ou restringir esse tipo de transação com recursos públicos ganhou força. No entanto, a medida esbarra em questões técnicas e legais, como o sigilo bancário. Mesmo assim, o BC e outros órgãos estudam soluções alternativas para mitigar esse risco social crescente.
Atualização sobre os retornos aos jogadores
A Secretaria de Apostas e Prêmios do Ministério da Fazenda também atualizou um dado crucial: o percentual de retorno das casas de apostas aos jogadores.
Enquanto o Banco Central estimava que cerca de 85% do valor apostado era devolvido na forma de prêmios, o novo dado oficial aponta para 94%.
Esse número ajuda a entender por que muitos jogadores continuam ativos nas plataformas, já que a ilusão de retorno fácil permanece forte.
Ainda assim, especialistas alertam que essa taxa de retorno não significa necessariamente lucro, uma vez que o apostador tende a reinvestir os valores recebidos.
Previsão de novos controles e regulamentações
Diante da magnitude dos números, cresce a pressão por mais fiscalização e controle sobre o setor de apostas. A tendência é que o Congresso avance com projetos de lei que tratem da publicidade, limites de apostas e proteção ao consumidor.
O Banco Central, por sua vez, deve continuar monitorando o impacto das apostas sobre o sistema financeiro e os hábitos de consumo da população.
O Brasil caminha para se tornar um dos maiores mercados de apostas do mundo. No entanto, sem medidas regulatórias eficazes, esse crescimento pode gerar desequilíbrios econômicos e sociais relevantes.
A atuação das autoridades nos próximos meses será crucial para evitar que a popularização das bets se transforme em um problema de saúde pública.