Ciclo de alta da Selic

Choque das tarifas de Trump pode mudar rumo da Selic, avalia economista da XP

Tarifas de Trump e risco de recessão global alteram cenário para Selic e inflação, segundo economista-chefe da XP.

Choque das tarifas de Trump pode mudar rumo da Selic, avalia economista da XP
  • As tarifas de Trump e a retaliação da China aumentam o temor de recessão global, o que pode levar o Banco Central a antecipar o fim do ciclo de alta da Selic
  • Com a atividade global mais fraca, a inflação projetada para o horizonte relevante pode cair de 3,7% para algo mais próximo de 3,5%, aproximando-se da meta
  • A XP avalia que o BC já constrói a narrativa para uma pausa e projeta juros estáveis no médio prazo

Com a escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o Banco Central do Brasil pode rever o ritmo de alta da Selic e antecipar uma pausa no ciclo de aperto monetário. Essa é a avaliação de Caio Megale, economista-chefe da XP, que destaca o risco de uma recessão global como fator decisivo para essa possível mudança de rumo.

A imposição de tarifas pelo presidente norte-americano Donald Trump, trouxe incertezas ao mercado internacional, derrubou projeções de crescimento. Além de reacender temores sobre uma possível contração econômica global. Nesse contexto, o Banco Central brasileiro pode repensar sua estratégia de combate à inflação.

Risco de recessão acelera revisão do BC

Megale afirma que, diante do novo cenário internacional, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode optar por apenas mais uma alta de juros na próxima reunião e, em seguida, adotar uma postura de espera. Para ele, os impactos das tarifas reforçam o movimento de desaceleração global. Assim, criando um ambiente de menor pressão inflacionária.

Segundo o economista, a inflação projetada para o horizonte relevante do Copom poderia cair de 3,7% para cerca de 3,5% se a reunião ocorresse hoje. Embora o número ainda esteja acima da meta de 3%, ele considera que os riscos agora apontam mais para uma desaceleração do que para uma aceleração de preços. A decisão, no entanto, dependerá dos desdobramentos econômicos nas próximas semanas.

O Copom elevou a Selic para 14,25% na última reunião e sinalizou novo ajuste em maio. Com o cenário externo mais incerto, o mercado pode revisar a projeção da taxa, antes estimada em 15% até o fim de 2025.

Narrativa de pausa já começou a ser construída

Para Megale, o Banco Central já começou a preparar o terreno para interromper o ciclo de aperto monetário. Segundo ele, os diretores da instituição têm sinalizado que os juros já se encontram em nível bastante restritivo. Contudo, o que exigirá tempo para que os efeitos se espalhem pela economia.

Embora a XP ainda trabalhe com uma projeção oficial de Selic em 15,50% no fim do ciclo, Megale admite que, se o novo cenário global se confirmar, a taxa pode parar um pouco abaixo desse patamar. Ele também prevê que os juros permanecerão estáveis, pelo menos, até o início de 2026.

Apesar do enfraquecimento do ambiente externo, o economista destaca que o Brasil ainda enfrenta pressões internas, especialmente vindas de programas de estímulo à atividade.

O câmbio acima do previsto e medidas como o crédito consignado privado e a antecipação do 13º salário de aposentados podem manter a economia aquecida no curto prazo.

Ajustes estruturais ficarão para depois das eleições

Em relação ao cenário político, Megale acredita que o debate eleitoral de 2026 ainda está distante, principalmente pela ausência de uma candidatura clara da oposição. No entanto, ele alerta que qualquer que seja o vencedor da disputa presidencial, será necessário mobilizar capital político para enfrentar um desafio fiscal de longo prazo.

Para ele, o governo atual tem conseguido manter o fiscal sob controle até as eleições. Mas, a tendência de aumento do endividamento exige uma resposta mais estruturada. Sem reformas consistentes, o país pode perder credibilidade e ter dificuldades em estabilizar sua dívida pública nos próximos anos.

Em suma, o agravamento das tensões geopolíticas e a possível recessão global estão mudando a dinâmica da política monetária brasileira. O Banco Central, que até pouco tempo atrás mantinha o discurso firme de combate à inflação, agora pode adotar uma postura mais cautelosa. Dessa forma, priorizando a estabilidade em meio à incerteza internacional.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativa. Aprecio a arte, a cultura e a sociedade!

Estudante de Jornalismo, apaixonada por redação e escrita! Tenho experiência na área educacional (alfabetização e letramento) e na área comercial/administrativa. Aprecio a arte, a cultura e a sociedade!