
- 63,75% da fraude do INSS ocorreu nos dois primeiros anos do atual governo Lula, com repasses de mais de R$ 4,1 bilhões a entidades sindicais.
- A auditoria da CGU aponta falhas graves nos sistemas de controle, agravadas sob a nova gestão, apesar da origem do esquema ser anterior.
- O caso provoca desgaste político e institucional, levando à exoneração de servidores, pedido de CPI e crise de imagem do governo e do INSS.
A maior parte das fraudes investigadas pelo governo federal no INSS ocorreu durante os dois primeiros anos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora os desvios tenham origem em 2019, dados da CGU apontam que 64% dos repasses indevidos a entidades sindicais se concentraram em 2023 e 2024, revelando falhas graves de controle administrativo.
Fraude bilionária atinge pico sob atual gestão
Desde 2019, o INSS repassou mais de R$ 6,5 bilhões a entidades sindicais e associativas, e enviou cerca de R$ 4,1 bilhões apenas entre 2023 e 2024, já durante o terceiro mandato do presidente Lula. Os dados constam em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) e mostram o avanço de um esquema de descontos indevidos aplicados diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas.
Sendo assim, embora o governo atual tente dividir a responsabilidade alegando que as irregularidades começaram ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro, os números demonstram que a explosão dos valores desviados ocorreu nos últimos dois anos. Isso levanta questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de fiscalização adotados após o retorno do PT ao Planalto.
Além dos valores vultosos, a natureza da fraude também preocupa. Alguém aplicou os descontos supostamente voluntários sem a autorização expressa dos beneficiários, que passaram a ter valores descontados em nome de sindicatos e associações muitas vezes inexistentes ou sem capacidade operacional comprovada. A prática fere diretamente o princípio da legalidade administrativa.
Desse modo, a investigação, liderada pela Polícia Federal, já levou ao afastamento de servidores e à exoneração do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. O Ministério da Previdência também suspendeu os descontos e prometeu restituir os valores retidos indevidamente, mas milhares de idosos já consideram o impacto irreparável.
Comparativos históricos reforçam gravidade
A crise atual no INSS guarda semelhanças com escândalos anteriores envolvendo fundos públicos, como o caso do Mensalão (2005) e os desvios em fundos de pensão das estatais investigados pela Operação Greenfield (2016). No entanto, especialistas consideram que a atual fraude tem características únicas, especialmente pelo alcance nacional e pela população diretamente afetada — aposentados e pensionistas.
Desde o início da redemocratização, poucos episódios de corrupção institucionalizada causaram tamanha indignação pública quanto o atual. A recorrência de práticas de aparelhamento institucional e a falta de controle interno criam um cenário favorável à rápida e silenciosa expansão desses esquemas.
Assim, ao comparar com gestões anteriores do próprio Lula, observa-se um padrão preocupante. Em seu primeiro mandato (2003–2006), o governo federal enfrentou duras críticas pela falta de vigilância sobre entidades sindicais beneficiadas por convênios públicos. Embora o INSS não tenha cometido fraudes diretamente naquele período, as pessoas já questionavam o modelo de relacionamento com essas organizações.
Portanto, a repetição do problema em 2023 e 2024 reforça falhas administrativas crônicas. Ela também evidencia a necessidade de revisão estrutural nos processos de concessão e fiscalização de descontos. A CGU reconhece, inclusive, que os sistemas digitais de controle permanecem vulneráveis e desatualizados.
Impactos políticos e administrativos em curso
O impacto da descoberta tem se refletido também na esfera política. Parlamentares da oposição articulam a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar responsabilidades, tanto de servidores quanto de gestores nomeados politicamente. Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto tenta conter os danos com a promessa de restituições automáticas.
A repercussão também afeta as entidades sindicais, que a opinião pública passou a ver com desconfiança. Representantes dessas organizações afirmam que eles identificaram casos isolados e que a maioria age de forma legítima. No entanto, os documentos analisados mostram que pelo menos 72% das entidades beneficiadas nos últimos dois anos não apresentaram documentação exigida ou prestaram contas adequadamente.
Além disso, o governo, por sua vez, tenta atribuir parte da responsabilidade ao sistema herdado da gestão Bolsonaro. Auditores da CGU apontam que as falhas se agravaram recentemente. Eles também afirmam que os mecanismos de controle não foram modernizados como previsto no plano de integridade da nova administração.
Enquanto isso, aposentados continuam a relatar descontos indevidos, muitos dos quais foram aplicados de forma retroativa. Desse modo, a imagem institucional do INSS foi abalada e a confiança na Previdência Social sofre uma de suas maiores crises em décadas.