- Ministro da Previdência declarou guardar R$ 431 mil em espécie em casa na última eleição
- Wolney substitui Carlos Lupi em meio a escândalo de fraudes no INSS; ambos têm vínculos próximos
- Oposição cobra explicações e alerta para riscos de lavagem de dinheiro com posse de grandes quantias em espécie
A escolha de Wolney Queiroz para comandar o Ministério da Previdência já provoca inquietação em Brasília. O ex-deputado federal, que perdeu a eleição em 2022 e assumiu o novo posto na semana passada por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, declarou à Justiça Eleitoral guardar R$ 431 mil em espécie em sua residência.
Um dado que, embora não seja ilegal, chama atenção de órgãos de controle por ser considerado um indicativo clássico de possíveis práticas ilícitas. Assim, como a lavagem de dinheiro.
A revelação consta na última declaração de bens entregue por Wolney ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em sua tentativa frustrada de se reeleger para a Câmara dos Deputados.
Com cinco mandatos no currículo, o político agora substitui Carlos Lupi no Ministério da Previdência, pasta envolvida em uma crise após denúncias de fraudes em aposentadorias e irregularidades no desconto de contribuições sindicais de beneficiários do INSS.
Alerta sobre as fraudes
O próprio Lupi admitiu, em entrevista ao jornal O Globo, que recebeu alertas sobre possíveis fraudes, mas preferiu não agir. Sua permanência se tornou insustentável diante da pressão por responsabilizações internas e da investigação conduzida pela Polícia Federal. Contudo, que resultou na saída do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, também indicado por Lupi.
Apesar de não figurar como alvo formal nas investigações, Lupi se afastou do cargo afirmando, em uma publicação nas redes sociais, que sua consciência está limpa e que “nenhum trecho das investigações” menciona seu nome. Segundo ele, todas as apurações contaram com o apoio da sua gestão e dos órgãos de controle do governo.
A indicação de Wolney Queiroz, porém, não passou despercebida pelos bastidores de Brasília. Sua proximidade com Lupi, de quem era secretário-executivo, levanta dúvidas sobre a real renovação na pasta.
Além disso, o fato de manter elevadas quantias de dinheiro vivo em casa acende alertas em um momento em que o país discute medidas mais duras para coibir transações com grandes volumes de dinheiro físico.
Transações em espécie
Em 2021, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou um projeto que propõe a proibição de transações em espécie acima de R$ 10 mil e da posse de mais de R$ 300 mil.
O projeto ainda aguarda votação, mas ganha relevância diante de casos como o de Wolney. Procurado pela imprensa, o ministro não se manifestou sobre os motivos que o levaram a guardar R$ 431 mil em casa.
Além do dinheiro vivo, Wolney declarou à Justiça Eleitoral possuir um apartamento avaliado em R$ 596,4 mil em Caruaru (PE), sua base política. Além de participações em três empresas.
Curiosamente, seu patrimônio diminuiu nos últimos anos. Em 2018, declarou possuir R$ 2,2 milhões em bens. Já em 2022, o total foi de R$ 1,7 milhão. Em 2006, seu patrimônio era de apenas R$ 355,9 mil.
A nomeação de Wolney, em vez de dissipar o mal-estar no Ministério da Previdência, aprofunda o debate sobre critérios de escolha para cargos estratégicos em meio a crises.
A oposição promete acionar a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara para cobrar explicações do novo ministro sobre o dinheiro em espécie. Além do seus planos para recuperar a credibilidade da pasta.