- Argentina surpreende com crescimento de 5,7% em fevereiro, quarto mês seguido de alta anual
- Setores de serviços financeiros e pesca lideram recuperação econômica, com altas de mais de 28%
- Ajuste fiscal de Milei começa a mostrar resultados, mas inflação e pobreza ainda desafiam retomada
A economia da Argentina surpreendeu analistas e investidores ao registrar um crescimento de 5,7% em fevereiro de 2025, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O dado, divulgado nesta terça-feira (22) pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), mostra que o país vive seu quarto mês consecutivo de expansão anual, em um cenário ainda marcado por duras medidas de austeridade promovidas pelo governo do presidente Javier Milei.
Embora o ritmo tenha sido mais lento que o de janeiro, cujo crescimento foi revisado para 6,7%, o resultado superou a expectativa do mercado. Que projetava, no entanto, uma alta de 5,1%, segundo levantamento da agência Reuters.
A reação positiva reforça a percepção de que a terceira maior economia da América Latina começa a mostrar sinais mais concretos de recuperação após a severa contração vivida em 2023.
Recuperação econômica
A recuperação ocorre em meio a uma política econômica de choque, liderada por Milei, que assumiu o poder com um plano radical de ajuste fiscal. Além da desregulamentação da economia e corte de gastos públicos. Apesar das críticas e do alto custo social, os indicadores recentes começam a desenhar uma reversão do quadro recessivo.
Entre os 11 setores econômicos que cresceram em fevereiro, os destaques ficaram com serviços financeiros, que saltaram 30,2%, e pesca, que subiu 28,3%. Ambos lideraram a retomada, seguidos por setores estratégicos como comércio atacadista e varejista, com crescimento de 7,4%, e a indústria, que avançou 5%.
Segundo o Indec, o desempenho positivo dos serviços financeiros teve o maior impacto no resultado global. O setor, contudo, se beneficia da estabilização monetária e do ambiente de juros reais elevados. O que impulsionou as atividades bancárias, de crédito e investimentos. Já a pesca colheu os frutos de uma temporada favorável e da ampliação das exportações para mercados asiáticos.
Na comparação mensal, a atividade econômica argentina cresceu 0,8% em fevereiro, o que representa o quinto avanço consecutivo. O número também superou o resultado revisado de janeiro, que havia mostrado alta de 0,6%.
Especialistas destacam que essa sequência de ganhos mensais indica uma recuperação mais consistente, mesmo com o ambiente interno ainda pressionado por inflação elevada e tensões sociais.
A equipe econômica de Milei avalia os resultados como uma confirmação do ajuste bem-sucedido em curso.
“Os dados reforçam que o plano de choque está funcionando. A economia voltou a crescer e, com responsabilidade fiscal, vamos estabilizar o país”, afirmou em nota o Ministério da Economia.
No entanto, analistas alertam que a recuperação ainda enfrenta riscos. A inflação acumulada em 12 meses segue acima de 200%, os salários reais continuam comprimidos e a pobreza atinge mais de 40% da população.
“O crescimento é real, mas a base de comparação ainda é muito baixa. Será preciso consolidar esse ritmo para que os efeitos cheguem à população”, avaliou o economista argentino Nicolás Roldán, da consultoria FIDES.
A projeção para os próximos meses dependerá do comportamento do consumo interno, da confiança dos investidores e da capacidade do governo de manter o equilíbrio fiscal sem agravar a crise social.