Desafio econômico

Brasil registra menor desigualdade de renda da história, mas concentração no topo persiste

Renda dos 70% mais pobres cresce em 2024, mas elite econômica mantém concentração sem precedentes, segundo o IBGE.

Brasil registra menor desigualdade de renda da história, mas concentração no topo persiste Brasil registra menor desigualdade de renda da história, mas concentração no topo persiste Brasil registra menor desigualdade de renda da história, mas concentração no topo persiste Brasil registra menor desigualdade de renda da história, mas concentração no topo persiste
IBGE abre mais de 8 mil vagas para recenseadores e0322142300202209141436
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  • A desigualdade de renda no Brasil atingiu seu menor nível histórico em 2024, com a diferença entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres caindo para 14,4 vezes.
  • Apesar disso, o 1% mais rico ainda possui uma renda 36,2 vezes superior à dos 40% mais pobres, indicando uma concentração significativa no topo.
  • Desigualdades regionais persistem, especialmente no Norte e Nordeste, exigindo políticas públicas focadas no desenvolvimento dessas áreas.

Enquanto a desigualdade de renda no Brasil atinge o menor nível da história, dados de 2024 mostram que os 1% mais ricos ainda ganham o equivalente a 362 vezes mais que os 40% mais pobres. Avanço importante na base da pirâmide convive com concentração extrema no topo.

Renda melhora entre os mais pobres

Pela primeira vez desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou o monitoramento da distribuição de renda, a desigualdade no Brasil caiu para o menor nível da série histórica. De acordo com dados de 2024, divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), os 70% mais pobres da população concentraram 27,5% da renda total do país. Esse patamar representa um aumento relevante em relação aos anos anteriores e aponta para um alívio expressivo na base da pirâmide social.

Esse movimento, embora tímido diante das necessidades estruturais, sinaliza uma redistribuição mais favorável da renda no país. Entre os principais fatores que contribuíram para esse avanço, estão a recuperação do mercado de trabalho formal, a ampliação de programas sociais e a elevação real do salário mínimo. Além disso, políticas fiscais voltadas à proteção social e à transferência de renda demonstraram impacto imediato, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.

Não se trata apenas de números; as consequências se refletem diretamente na vida cotidiana. Famílias que antes conviviam com insegurança alimentar agora contam com uma renda minimamente estável, o que permite melhor planejamento doméstico e acesso mais regular a serviços essenciais. Apesar disso, os avanços não significam uma reversão plena do quadro histórico de desigualdade.

O topo ainda acumula fortunas desproporcionais

Embora os dados revelem uma melhoria na base, a elite econômica do Brasil mantém uma concentração de renda alarmante. Em 2024, o grupo que compõe o 1% mais rico do país possuía uma renda média 362 vezes superior à dos 40% mais pobres. Esse número, divulgado também pelo IBGE, reforça que o abismo entre as extremidades sociais continua sendo um dos maiores do mundo.

Mesmo com o crescimento da renda entre os mais pobres, a fatia apropriada pelos mais ricos não apresentou queda significativa. Em outras palavras, os que estão no topo da pirâmide continuam acumulando renda em ritmo desproporcional. Essa realidade indica que, embora a desigualdade geral tenha diminuído, a concentração no topo resiste às mudanças e permanece praticamente intacta.

Esse fenômeno tem implicações diretas na formulação de políticas públicas. Sem enfrentar de forma mais contundente a renda do topo, medidas redistributivas encontram um limite estrutural. A tributação progressiva, por exemplo, ainda representa um desafio no Brasil, onde os super-ricos contribuem proporcionalmente menos do que a classe média para os cofres públicos.

Contexto estrutural e desafios futuros

É importante ressaltar que a redução da desigualdade em 2024 ocorreu após uma sequência de crises econômicas e sanitárias que aprofundaram ainda mais as distorções. Portanto, os dados mais recentes refletem também um ponto de recuperação, e não apenas uma tendência sustentável. Manter esse avanço requer, portanto, mais do que ações pontuais.

Para que o Brasil consiga reduzir de forma consistente as disparidades, será necessário investir em reformas estruturais. Isso inclui um sistema tributário mais justo, com impostos sobre lucros e grandes fortunas, além de uma política de renda básica permanente. Ademais, será fundamental melhorar a qualidade dos serviços públicos e ampliar o acesso à educação e à saúde para as camadas mais pobres.

Se o país conseguir avançar nesse caminho, os dados de 2024 poderão marcar não apenas um alívio estatístico, mas um ponto de virada. Embora o cenário atual ofereça sinais positivos, o desafio continua sendo garantir que o crescimento econômico beneficie, de fato, todos os brasileiros — e não apenas uma minoria.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.