
- IPCA caiu para 0,38% em abril, mas núcleo da inflação segue pressionado.
- Selic deve permanecer em 10,50% nas próximas reuniões, segundo economistas.
- Juros altos ainda dificultam acesso ao crédito e travam consumo das famílias.
O IPCA caiu para 0,38% em abril, registrando o menor avanço em três meses. Apesar do alívio nos combustíveis e alimentos, economistas seguem céticos quanto à possibilidade de queda imediata da Selic. Riscos fiscais e pressões em serviços ainda desafiam o Banco Central, que mantém o tom cauteloso.
Inflação cede, mas núcleo ainda preocupa economistas
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou em abril, apontando variação de 0,38%, segundo o IBGE. O dado representa um recuo frente aos 0,16% registrados em março. Em 12 meses, o indicador atingiu 3,69%, ficando dentro do intervalo da meta perseguida pelo Banco Central.
Essa desaceleração, porém, ocorreu por fatores pontuais. Os preços da gasolina recuaram 0,44%, enquanto a energia elétrica teve alta menor que o esperado. Os alimentos também contribuíram, especialmente frutas, carnes e derivados do leite, com ajustes mais brandos do que nos meses anteriores.
Contudo, economistas ressaltam que os núcleos da inflação — que excluem itens mais voláteis — continuam elevados. O setor de serviços, por exemplo, ainda mostra resistência, puxado por gastos com educação, saúde e cuidados pessoais. Isso limita a leitura positiva e exige atenção contínua da política monetária.
Além disso, o impacto da inflação sobre o consumo permanece presente. Mesmo com o alívio pontual, os preços ainda estão elevados em diversas regiões, dificultando o acesso a bens essenciais para parte significativa da população. O cenário reforça a importância de medidas estruturais de contenção.
Taxa Selic deve seguir estável nas próximas decisões
Apesar da melhora nos números do IPCA, a expectativa majoritária do mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a Selic em 10,50% nas próximas reuniões. A avaliação dominante é que o ciclo de cortes iniciado em 2023 está perto do fim.
A razão principal é o risco fiscal. A lentidão na implementação do novo arcabouço fiscal, aliada às incertezas sobre a meta de resultado primário, impõe limites à redução da taxa básica. A dívida pública elevada também pressiona o Banco Central a agir com cautela.
Outro fator relevante é o ambiente internacional. O comportamento do Federal Reserve, nos Estados Unidos, tem grande influência sobre os mercados emergentes. Caso os juros norte-americanos sigam altos por mais tempo, a margem para cortes da Selic se reduz significativamente.
De acordo com o boletim Focus, a estimativa para a Selic ao fim de 2025 permanece em 9,75%. A projeção tem se mantido estável nas últimas semanas, refletindo o consenso entre analistas de que não há espaço suficiente para novos cortes expressivos.
Juros altos ainda afetam crédito e consumo no país
Enquanto isso, os efeitos dos juros altos continuam visíveis na vida dos brasileiros. O crédito segue caro, dificultando financiamentos e inibindo o consumo. Famílias endividadas encontram obstáculos para renegociar dívidas, o que compromete o orçamento doméstico.
No comércio, há relatos de melhora moderada nas vendas, porém sem grandes avanços. Empresários destacam que a demanda segue reprimida, especialmente entre as classes mais baixas. Com menos recursos disponíveis, o consumidor prioriza itens essenciais e adia compras maiores.
Ademais, o crédito empresarial também sofreu retração. Pequenas e médias empresas relatam maior dificuldade em acessar linhas de financiamento, mesmo com inadimplência em queda. O alto custo dos empréstimos desestimula investimentos, travando o crescimento em setores estratégicos da economia.
Por fim, a política monetária permanece sob pressão. O Banco Central busca equilíbrio entre inflação controlada e crescimento sustentável. Para isso, aguarda sinais mais consistentes da atividade econômica e do ambiente fiscal, antes de promover novas mudanças na taxa Selic.